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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

THE BUTCHER

O que diferencia os homens dos meninos não é a quantidade de dinheiro que ganham, não são as conquistas amorosas, não são os empreendimentos financeiros, não é a família constituída. 

O que diferencia um homem de um menino não é também a feitura de um churrasco. Espetar a carne e deixá-la assar na brasa tem lá seus mistérios, mas nada que alguma atenção e alguns jargões, como “essa churrasqueira puxa muito” ou “me trouxeram lenha verde”, resolvem o problema. 

O que realmente diferencia um homem de um menino é comprar a carne que vai protagonizar um churrasco.


Quem me conhece sabe que sou um frequentador e um entusiasta dos supermercados. Você escolhe o que quer sem precisar falar nada com ninguém. Se não quiser, não é necessário nem dar um monossilábico “oi” pra menina do caixa. E é aí que está o problema: pra comprar a carne do churrasco você precisa falar com o açougueiro.

Por algum motivo, por mim desconhecido, a categoria dos açougueiros tem alguns princípios altamente rígidos. E entre eles está o de desmoralizar completamente qualquer inocente que não conheça por completo a anatomia do boi e qual a melhor forma de preparar determinado corte. 

Eles conhecem um inocente de longe. Devem vibrar de alegria diante da cara de dúvida (e terror) de um incauto churrasqueiro e da perspectiva de humilhá-lo totalmente diante do balcão.

E eu confesso – envergonhado – que não tenho estofo pra encarar um açougueiro. Por isso, sigo comprando carnes em providenciais bandejas de isopor. Como um menino de calças curtas.

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