05/04/2013 07h00 - Atualizado em 05/04/2013 07h00
Alucinação com notas musicais é tema de pesquisa de
neurologista
Autor de best-sellers, Oliver Sacks avalia 8 casos desse
tipo.
Idosa com glaucoma diz enxergar notas e claves 'por todos os
lados'.
Do G1, em São Paulo
Uma pesquisa do renomado professor de neurologia da
Universidade de Columbia Oliver Sacks, autor de livros como "Tempo de
Despertar" e "Um Antropólogo em Marte", avalia oito casos de
pessoas que sofrem alucinações com notas musicais.
O estudo, divulgado nesta quinta-feira (4) na revista
"Brain", da Universidade de Oxford, detalha casos de pessoas que
relataram experiências de alucinação envolvendo "dós",
"rés", "mis" ou claves musicais.
Em um dos casos, uma
mulher de 77 anos com glaucoma contou a Sacks que possuía "olhos
musicais".
Identificada como Marjorie J., a paciente contou a Sacks em
1995 que começou a "ver linhas, espaços, notas e claves" por todos os
lados. "De fato, eu vejo música escrita em tudo que eu olho, mas apenas
quando não há o que enxergar", escreveu.
"Ignorei isso por um tempo, mas quando eu estava
visitando o Museu de Arte de Seattle, lia os textos explicativos [sobre as
obras de arte] e eles eram música. Ali eu percebi que estava tendo algum tipo
de alucinação", disse a paciente.
Para Sacks, alucinações com notas musicais podem ocorrer em
uma série de casos, como em pessoas com Mal de Parkinson, febre, intoxicação ou
em estado hipnagógico, quando o indivíduo está entrando no estágio de sono e
deixando o instante de estar acordado.
Outro dos casos citados pelo professor da Universidade de
Columbia é o de Arthur S., um cirurgião que estava perdendo a visão devido a
uma degeneração. Em 2007, ele passou a "ver" notas musicais pela
primeira vez.
"Em aparência, as notas eram extremamente realistas.
Claves impressas em um fundo branco como se fosse um 'lençol', com música de
verdade", descreveu Sacks. O cirurgião, que era pianista por hobby, pensou
que o cérebro estivesse produzindo uma música nova, totalmente vinda de si
mesmo.
"Mas, ao olhar mais de perto, o médico percebeu que as
notas não podiam ser tocadas", contou o professor no estudo. Para Sacks, a
experiência com música foi determinante para as alucinações que o médico
sofreu.
O famoso neurologista avalia que sete dos oito casos
estudados de alucinação envolviam pessoas com aptidão musical - pianistas, por
exemplo. "Pode ser uma coincidência, mas faz pensar se há algo nas notas
musicais que as fazem radicalmente diferentes do texto escrito", escreveu
Sacks em seu estudo.
O professor ponderou, ainda, que em muitos dos casos de
alucinação estudados, as "partituras" formadas não podiam ser
tocadas, por incluírem símbolos sem sentido ou aleatórios.
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