Caetano Emanuel Viana Teles Veloso nasceu em 1942, na Bahia.
Filho de um funcionário dos Correios e telégrafos e de Dona
Canô. Que era.. Dona Canô.
Em 1979, Caetano Veloso grava Cinema Transcendental,
repetindo a parceria do disco anterior (Muito – Dentro da estrela azulada) com
A Outra Banda da Terra, grupo formado por Vinicius Cantuária, Tomás Improta, Perinho
Santana, Arnaldo Brandão e outros músicos. Merece destaque no disco a gravação
que Caetano fez de Vampiro, do grande Jorge Mautner. O disco tem a participação
do recentemente falecido Dominguinhos em Oração ao Tempo e Cajuína.
Sobre Cajuína, a palavra do próprio Caetano:
"Numa excursão
pelo Brasil com o show Muito, creio, no final dos anos 70, recebi, no hotel em
Teresina, a visita de Dr. Eli, o pai de Torquato. Eu já o conhecia, pois ele
tinha vindo ao Rio umas duas vezes. Mas era a primeira vez que eu o via depois
do suicídio de Torquato. Torquato estava, de certa forma, afastado das pessoas
todas. Mas eu não o via desde minha chegada de Londres: Dedé e eu morávamos na
Bahia e ele, no Rio (com temporadas em Teresina, onde descansava das
internações a que se submeteu por instabilidade mental agravada, ao que se diz,
pelo álcool). Eu não o vira em Londres: ele estivera na Europa mas voltara ao
Brasil justo antes de minha chegada a Londres. Assim, estávamos de fato
bastante afastados, embora sem ressentimentos ou hostilidades. Eu queria muito
bem a ele. Discordava da atitude agressiva que ele adotou contra o Cinema Novo
na coluna que escrevia, mas nunca cheguei sequer a dizer-lhe isso. No dia em
que ele se matou, eu estava recebendo Chico Buarque em Salvador para fazermos
aquele show que virou disco famoso. Torquato tinha se aproximado muito de
Chico, logo antes do tropicalismo: entre 1966 e 1967. A ponto de estar mais frequentemente
com Chico do que comigo. Chico e eu recebemos a notícia quando íamos sair para
o Teatro Castro Alves. Ficamos abalados e falamos sobre isso. E sobre Torquato
ter estado longe e mal. Mas eu não chorei. Senti uma dureza de ânimo dentro de
mim. Me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental. Quando, anos
depois, encontrei Dr. Eli, que sempre foi uma pessoa adorável, parecidíssimo
com Torquato, e a quem Torquato amava com grande ternura, essa dureza amarga se
desfez. E eu chorei durantes horas, sem parar. Dr. Eli me consolava,
carinhosamente. Levou-me à sua casa. D. Salomé, a mãe de Torquato, estava hospitalizada.
Então ficamos só ele e eu na casa. Ele não dizia quase nada. Tirou uma
rosa-menina do jardim e me deu. Me mostrou as muitas fotografias de Torquato
distribuídas pelas paredes da casa. Serviu cajuína para nós dois. E bebemos
lentamente. Durante todo o tempo eu chorava. Diferentemente do dia da morte de
Torquato, eu não estava triste nem amargo. Era um sentimento terno e bom,
amoroso, dirigido a Dr. Eli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu
chorei. No dia seguinte, já na próxima cidade da excursão, escrevi
Cajuína."
Cajuína
Caetano Veloso
Existirmos a que será que se destina
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina
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