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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

ALMOÇANDO II

Já falei aqui do fenômeno do almoço em bando. Quer dizer, em grupo, confraternizando com os colegas.

Mas nem sempre é assim. Às vezes chove. E a partir das 8h30min, alguém levanta a questão: “Será que vai estar chovendo ao meio-dia?”. Depois de aplacado o rebuliço de frases repetidas do programa que cada um viu ou ouviu pela manhã, vem a ideia criativa: “Bem que a gente podia pedir uma ‘tele’, né?”. Novo burburinho. Alguém diz que não, pois precisa buscar o filho no colégio, outro diz que faz “HO-RAS” que pensa em pedir uma “tele” no escritório. Muitos gritam nomes de restaurantes aleatoriamente.


A tele-entrega é uma das invenções mais felizes desde o telefone, a motoca, o fogão e a preguiça de alguém com dinheiro pra pagar por esse conforto. Mas é claro que a mesma raça que inventou essa facilidade complicou a decisão do pedinte com o variado leque de opções. E é sabido que quando se tem fome, se quer comer de tudo. E em um escritório todos sempre têm fome.

A mesma complicação da escolha do restaurante em dias ensolarados se transfere para o catálogo telefônico (ok, gugol, sou antigo).“Bauru!” gritam alguns. “Lanche não!”. “Pizza! Pizza!”. “Galeto!”. “Costela!”. E claro que todos os gritos são rechaçados com os mais variados argumentos: “Engorda!”, “Deixa cheiro!”, “É muito caro!”. 

A turma da pizza se fortalece e sai vencedora. E é incrível que todos tenham que pedir a mesma comida. “Ok, pizza.” E agora, de onde? Nova confusão, alvoroço, panfletos voam pelo ar. Certo, decidiu-se por uma pizzaria muito boa. O fato de ficar no outro lado da cidade é um detalhe. “Qual sabor?” Agora a turma da pizza ganha dissidências. Alguns ponderados ou conciliadores optam pela tradicional meia mussarela meia calabresa. De qualquer maneira, sempre alguém pede calabresa e é sempre a que mais sobra.

Já são 11h45min. Até conseguir uma ligação e explicar todas as formas de pagamento (vale-alimentação, dinheiro, uns vales da pizzaria, cheque, visa, mastercard e alguém ainda não sabe como pagar porque esqueceu a carteira no carro), é meio-dia. Como toda a cidade resolveu pedir tele-entrega por causa da chuva, o pedido só vai chegar perto das 13h. Com sorte. 


Quando chega, alguns avançam e começam a comer com a mão mesmo. Alguém aparece com prato pra todo mundo: “Depois cada um lava o seu!”. É claro que ninguém lava. Pelo menos não com seriedade. Os pratos carregam restos de pizza de seis ou sete chuvas atrás. E sempre fica algum misteriosamente na pia.

O cheiro de calabresa com cebola fica a tarde inteira no escritório. Só melhora quando alguém chega borrifando aromatizante pra todo lado. Aí fica bom: calabresa, cebola e lavanda. E a caixa da pizza nunca cabe no saco de lixo.

Nada como um almoço com os colegas.

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