Morre Oscar Castro Neves, um dos precursores da Bossa Nova
- Arranjador, compositor e violonista acompanhou Tom Jobim na lendária apresentação no Carneggie Hall, em 1962
- Artista é considerado um dos principais responsáveis pelo sucesso internacional da Bossa Nova
O compositor, arranjador e violonista Oscar Castro Neves morreu nesta sexta-feira, aos 73 anos. Há meses tratando um câncer, ele passou o estágio final da doença em sua casa, em Los Angeles, segundo seu irmão mais novo, Pedro Paulo. Com os outros três irmãos — Iko, Léo e Mário — ele formou o conjunto Irmãos Castro Neves, um dos precursores na Bossa Nova, nos anos 1950.
— Conheci o Oscar quando ele tinha 16 anos. Naquela idade, ele já tocava muito bem. Sempre foi um músico excelente, não à toa estava fazendo uma carreira bem sucedida nos Estados Unidos e Japão. Seu papel na divulgação da bossa nova lá fora foi fundamental — afirma Roberto Menescal. — Mas do talento dele todo mundo sabe. Acho importante dizer que ele foi o cara mais carinhoso que eu conheci na vida.
Foi outro balanço — não o do mar e nem do barquinho — que levou Oscar Castro Neves a dar sua primeira grande contribuição à bossa nova — mesmo antes de o gênero ser estabelecido como tal. Aos 16 anos, durante uma viagem de ônibus, o então cavaquinista e também violonista começou a criar sua primeira canção. Ao chegar em casa, foi direto ao violão tirar a melodia que havia o tomado. Harmonia pronta, chamou o amigo arquiteto Luvercy Fiorini para criar a letra. "Cora tua tristeza" estava pronta. Era 1956, e o jovem compositor teria de esperar três anos até que Alaíde Costa fosse fisgada, durante uma sessão na casa de um amigo. A cantora, que havia acabado de lançar seu primeiro LP, “Gosto de você” (1959), começava ali a montar o repertório do seu segundo disco.
Pego de surpresa, Castro Neves bateu na porta da casa de Carlos Lyra, pediu à mãe do amigo que lhe indicasse as notas — o músico não dominava a partitura —, encomendou os arranjos ao amigo Nelsinho do Trombone e, passados 15 dias após a gravação, foi chamado ao estúdio para conferir o resultado.
“Quando ouvi aquelas cordas todas, foi uma emoção. Ouvir a minha música orquestrada!”, relatou o músico numa entrevista.
Por volta da mesma época, Castro Neves compôs outra música, com Ronaldo Bôscoli, “Não faz assim”, que foi gravada pelo conjunto Garotos da Lua, que João Gilberto havia integrado.
Nascido no Rio de Janeiro em 15 de maio de 1940, Oscar Castro Neves teve iniciação musical em casa, logo formando um quarteto com os irmãos Iko (baixo), Léo (bateria) e o mais velho Mário (piano). Conhecido como Os Irmãos Castro Neves, o conjunto chamava a atenção da zona sul carioca, em meados dos anos 1950. E quando Mário — incentivado pelos mais novos — tomou coragem e ligou para Tom Jobim, surpreendeu-se ao ouvir que o famoso músico e maestro já os conhecia e que dali a alguns minutos estaria na garagem onde eles ensaiavam.
Àquela altura, em 1956, Jobim tinha 30 anos e a influência de sua personalidade — musical, principalmente — foi determinante para a formação de Oscar entre seus 16 e 20 e poucos anos. Assim como João Gilberto, referência máxima da bossa nova e cuja famosa batida Castro Neves definia como um processo de “decantação” das diversas tramas rítmicas afro brasileiras. Daquele encontro com Jobim em diante, Oscar se tornou, aos poucos, um dos mais influentes músicos e arranjadores da bossa nova, com participação fundamental na disseminação do gênero nos Estados Unidos. Ao lado de Roberto Menescal, Carlos Lyra e outros, cuidou do acompanhamento musical de Tom Jobim e dos demais participantes da lendária apresentação no Carneggie Hall, em 1962.
Um dos líderes da invasão brasileira, seu trabalho chamou a atenção de grandes nomes do jazz, e Oscar passou a excursionar e dividir palcos com nomes importantes como o quinteto de Dizzie Gillespie, o trio de Lalo Schifrin, o quarteto de Stan Getz, além de músicos como Bud Schank, Ray Brown e Shelley Man. Ao retornar ao Brasil, em 1963, trabalhou sobretudo como arranjador, até volta para os Estados Unidos em 1967, como o quinto elemento do Quarteto em Cy. Com a volta do grupo ao Brasil, Oscar decidiu ficar, fazendo de Los Angeles sua cidade fixa. Ao lado de Sérgio Mendes e o Brazil 66, lançou mais de 15 álbuns, entre 1971 e 1981, quando deixou o grupo.
À frente de seu quarteto ou trabalhando em estúdio, Oscar acumulou uma enorme e impressionante lista de parcerias contribuições musicais, que inclui trabalhos com Yo-Yo Ma, Michael Jackson, Barbra Streisand, Stevie Wonder, Airto Moreira, Toots Thielemans, Herbie Hancock, Ella Fitzgerald, entre muitos outros. Obras próprias como “Color and light — Jazz Sketches on Sondheim” se destacaram entre os melhores lançamentos de jazz de acordo com publicações como a “Billboard” e a “Time Magazine”. O músico participou ativamente do tributo de Joe Henderson a Tom Jobim, que resultou no álbum “Double rainbow” (1994), que recebeu uma indicação ao Grammy, prêmio que iria conquistar logo em seguida ao participar do álbum “Soul of the Tango: The music of Astor Piazzolla”, gravado em parceria com violoncelista Yo-Yo Ma.
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