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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

INVEJA

Zuenir Ventura, em seu livro sobre a inveja, chamado Mal Secreto, lembra que Nélson Rodrigues dizia que “Há coisas que o sujeito não confessa nem ao padre, nem ao psiquiatra e nem ao médium depois de morto”. E aposta que uma dessas coisas certamente é a inveja.

Pois, confesso aos leitores do TOA, tenho inveja de algumas coisas, entre elas de pessoas que sabem ganhar dinheiro. Não o sujeito que enriquece comprando e vendendo bebidas. Esse é um mourejador com senso de oportunidade. Nem de quem fica milionário compondo e cantando uma música cuja letra é “tchê-tchere-tchê-tchê”. Esse é um peitudo que se aproveita da... bem, se aproveita de gente que gosta desse tipo de música. Isso é do jogo e os exemplos são vários. E, diferentemente do Chico, não tenho inveja dessa gente que vai em frente sem nem ter com quem contar.

Eu invejo gente que ganha dinheiro (muito ou pouco) onde não há viabilidade comercial. Um hobby que cai nas graças do mundo por algum motivo que eu não sei qual é. 

O exemplo que me ocorre agora é de um programa do Canal Brasil chamado 302. Pelo que entendi, é um camarada que resolveu tirar fotos de “mulheres normais” (parênteses para explicar as aspas: convencionou-se chamar “mulher normal” qualquer mulher fora do “padrão de beleza” criado pelas grandes mídias blá, blá, blá; me ocorre agora que a Gisele Bündchen, por esse critério, é anormal; mas isso é outra história) peladas em seu apartamento, justamente de número 302. 

E, provavelmente, em cada episódio há uma entrevista com uma mulher normal dizendo que o nu é super normal, que ela se sente super bem com esses ensaios (outras super se sentem bem) e inclusive são apoiadas pelos parceiros e parceiras e que tudo isso é a coisa mais normal do mundo. Nunca vi, mas duvido que seja diferente disso.

Problema nenhum, nada contra. Muito antes pelo contrário. Mas não dá uma inveja de quem consegue capitalizar justamente sobre o que dizem ser super normal? Se isso é normal por que raios mostrar na televisão?

Sou obrigado a repetir um já tradicional bordão do TOA: Eu envelheço, eu envelheço...

Um comentário:

  1. Pois meus filhos em verdade vos digo, o mundo virou um lugazrim bem ruinzinho para se viver. Dia destes, pensando cá co's meus botões cheguei a seguinte conclusão; depois que inventaram a expressão "politicamente correto", ficou difícil ser feliz.

    Não há o que não haja. Chamar um amigo de negão nem pensar, ou se o fizer é bom que tenha por perto um brancão, para equivaler a situeichion e evitar um processo (o brancão nesse caso seria o atenuante).

    A melhor que soube nesses dias que se seguem do atentado em Paris foi que tem neguinho (e branquinho também - não falei??) que até entende o porque os irmãos (financiados pela Al-Qaeda), fizeram o que fizeram. Segundo os mesmos (os do politicamente correto - ora, vá mexer com o seu deus, o meu é imexível - (abraçoae Magri)), os cartunistas morreram porque cruzaram a linha tênue (pero sin ternura) do "ui que feio!" e em sendo assim até aceitam o ocorrido como forma de manifestação justa, afinal foram afrontados e para toda ação há uma regra física que não tem lógica alguma: ideias versus violências.

    Eu, se me permitem, procuro ser feliz sem levantar bandeiras, e ao invés de ser politicamente correto, quando invadem meu cantinho, utilizo a velha expressão "vá tomar no olho do seu cu", ou o bom e sintético "vá se foder", que resolve aproximadamente noventa por cento das situações, dependendo do tamanho do oponente terrorista.

    Abraço e feliz 15 (se possível).

    P.s: o que o comentário tem a ver com a gostosa acima? Nada, porque haveria de ter num mundo que não tem lógica alguma? Mas tenho uma teoria, pergunte-me como e lhe mostro.

    Luciano Hypólito (le garçon)

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