“Eu não gosto de fazer mal a ninguém. Por isso, é que não
tenho medo quando me vêm estes pensamentos.”
Assim, Lupicínio Rodrigues abre sua coluna que escreveu para
a Última Hora em 28/12/1963 e publicada posteriormente em uma edição da
L&PM.
Essa crônica, intitulada “Do amor ao ódio”, conta a história
da música “Vingança”,
provavelmente seu maior sucesso comercial (Lupicínio costumava dizer que cada vez que ele era enganado acabava ganhando dinheiro: “As mulheres boazinhas nunca me deram dinheiro, só as que me traíram”) e, dizem, responsável por uma onda de suicídios quando de seu lançamento por Linda Batista.
provavelmente seu maior sucesso comercial (Lupicínio costumava dizer que cada vez que ele era enganado acabava ganhando dinheiro: “As mulheres boazinhas nunca me deram dinheiro, só as que me traíram”) e, dizem, responsável por uma onda de suicídios quando de seu lançamento por Linda Batista.
Há um depoimento no qual ele fala sobre a música:
“Era época do
carnaval, ela endoidou. Botou um “Dominó". "Dominó” é aquela fantasia
preta, que cobre tudo. No carnaval, feito louca foi me procurar. Uma certa
madrugada, ela, num fogo danado - parece que deu fome - entrou num bar onde a
gente costumava comer. Foi obrigada a tirar o "Dominó” pra comer, e o
pessoal a reconheceu. Perguntaram - “Ué, Carioca, que você está fazendo aqui a
essa hora”? Cadê o Lupi?" Ela sozinha.” E continuou: “Ai ela começou a
chorar. Eu estava num restaurante do outro lado. Uns amigos chegaram e me
disseram: encontramos a Carioca vestida de "Dominó”, num fogo tremendo.
Começou a chorar e perguntar por ti. O que que houve, vocês estão
brigados?" Aí foi que eu fiz o "Vingança". Na mesma hora
comecei, saiu (canta) "Gostei tanto, tanto, quando me contaram ... ".
Na citada crônica, Lupicínio justifica o sentimento: “Nunca
se está livre de ter, em um momento de rancor, algum desejo de vingança”.
Vingança
Lupicínio Rodrigues
Eu gostei tanto,
Tanto quando me
contaram
Que ihe encontraram
Bebendo e chorando
Na mesa de um bar,
E que quando os
amigos do peito
Por mim perguntaram
Um soluço cortou sua
voz,
Não ihe deixou falar.
Eu gostei tanto,
Tanto, quando me
contaram
Que tive mesmo de
fazer esforço
Prá ninguém notar.
O remorso talvez seja
a causa
Do seu desespero
Ela deve estar bem
consciente
Do que praticou,
Me fazer passar tanta
vergonha
Com um companheiro
E a vergonha
É a herança maior que
meu pai me deixou;
Mas, enquanto houver
força em meu peito
Eu nao quero mais
nada
Só vingança,
vingança, vingança
Aos santos clamar
Ela há de rolar como
as pedras
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um
cantinho de seu
Pra poder descansar
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