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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

MÚSICA NA SEXTA

“Eu não gosto de fazer mal a ninguém. Por isso, é que não tenho medo quando me vêm estes pensamentos.”

Assim, Lupicínio Rodrigues abre sua coluna que escreveu para a Última Hora em 28/12/1963 e publicada posteriormente em uma edição da L&PM.

Essa crônica, intitulada “Do amor ao ódio”, conta a história da música “Vingança”,
provavelmente seu maior sucesso comercial (Lupicínio costumava dizer que cada vez que ele era enganado acabava ganhando dinheiro: “As mulheres boazinhas nunca me deram dinheiro, só as que me traíram”) e, dizem, responsável por uma onda de suicídios quando de seu lançamento por Linda Batista.

Há um depoimento no qual ele fala sobre a música:

“Era época do carnaval, ela endoidou. Botou um “Dominó". "Dominó” é aquela fantasia preta, que cobre tudo. No carnaval, feito louca foi me procurar. Uma certa madrugada, ela, num fogo danado - parece que deu fome - entrou num bar onde a gente costumava comer. Foi obrigada a tirar o "Dominó” pra comer, e o pessoal a reconheceu. Perguntaram - “Ué, Carioca, que você está fazendo aqui a essa hora”? Cadê o Lupi?" Ela sozinha.” E continuou: “Ai ela começou a chorar. Eu estava num restaurante do outro lado. Uns amigos chegaram e me disseram: encontramos a Carioca vestida de "Dominó”, num fogo tremendo. Começou a chorar e perguntar por ti. O que que houve, vocês estão brigados?" Aí foi que eu fiz o "Vingança". Na mesma hora comecei, saiu (canta) "Gostei tanto, tanto, quando me contaram ... ".

Na citada crônica, Lupicínio justifica o sentimento: “Nunca se está livre de ter, em um momento de rancor, algum desejo de vingança”.
 Vingança
 Lupicínio Rodrigues

 Eu gostei tanto,
 Tanto quando me contaram
 Que ihe encontraram
 Bebendo e chorando
 Na mesa de um bar,
 E que quando os amigos do peito
 Por mim perguntaram
 Um soluço cortou sua voz,
 Não ihe deixou falar.
 Eu gostei tanto,
 Tanto, quando me contaram
 Que tive mesmo de fazer esforço
 Prá ninguém notar.
 O remorso talvez seja a causa
 Do seu desespero
 Ela deve estar bem consciente
 Do que praticou,
 Me fazer passar tanta vergonha
 Com um companheiro
 E a vergonha
 É a herança maior que meu pai me deixou;
 Mas, enquanto houver força em meu peito
 Eu nao quero mais nada
 Só vingança, vingança, vingança
 Aos santos clamar
 Ela há de rolar como as pedras
 Que rolam na estrada
 Sem ter nunca um cantinho de seu
 Pra poder descansar

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