Pronto. Começou. Basta baixar dos 20 graus pra se ouvir: “Com
esse friozinho, é bom um vinhozinho”. O “vinhozinho” é diferente do “bom vinho”.
Não pela qualidade da bebida, mas pela circunstância. O “vinhozinho” pressupõe
lareira - mesmo que imaginária - cobertores, companhia, diversão, felicidade. O
“bom vinho” requer um “bom livro”, um “bom filme”, uma “boa música”. Uma grande
tese, uma grande chateação e uma grande mentira pra quem for ouvir a solitária epopeia
dessa noite no dia seguinte.
E com os vinhos surgem dois tipos. Um deles é difícil de driblar, que é o que se dispõe a levar o
vinho. E segreda: “é um vinho da colônia, de garrafão, mas nem parece”. Não
contente, com seu meio sorriso ele arremata : “Dá pra sentir o gostinho da uva”.
O “gostinho da uva” é demais. Você quer tomar vinho. Se quiser sentir gosto de
uva (ou “gostinho”, azar o seu) toma um suco de uva. E o vinho de garrafão tem
sempre um segredo de quem o trás: “É um produtor pequeno, não vende pra ninguém, só vende pra mim. Ou me dá dois ou três
garrafões”. Estranhamente, dessa vez o garrafão não foi ganho e você ainda vai
ter quer pagar a sua parte.
O outro tipo é o tradicional enochato. O enochato
normalmente é chato em tudo. É o chato técnico. Sabe quanto cada carro no
mundo faz por litro de gasolina, e o seu sempre tem baixo desempenho. O
enochato normalmente aparece com uma garrafa de vinho pra cada 15 pessoas. Leva
seu kit de abrir vinho e demora uns 25 minutos na operação. Enquanto isso a
gente tem que ouvir como foi a viagem em que ele comprou aquela garrafa e todas
as peripécias e peraltices da proeza. Normalmente foi em Rivera, no Uruguai,
mas contando assim fica sem graça.
Depois de servido fala “aos olhos... coloração rubi intenso, algo púrpura, muito brilhante". Por sorte ele parou. Mais um pouco ele ia ver o futuro ali. “ao nariz... elegante, sinto amoras aqui. Framboesas, notas de especiarias, ameixas, chocolate, eu já havia notado o carvalho só pela cor...”. Lá se foram mais uns 15 minutos. “à boca... humm... acidez perfeita, voltaram as frutas, sinto flores aqui, taninos marcantes, retrogosto curto, o carvalho não pegou, hein? Mais frutas... encontrei um pimentão. Excelente”. Melhor abrir uma caracu.
Depois de servido fala “aos olhos... coloração rubi intenso, algo púrpura, muito brilhante". Por sorte ele parou. Mais um pouco ele ia ver o futuro ali. “ao nariz... elegante, sinto amoras aqui. Framboesas, notas de especiarias, ameixas, chocolate, eu já havia notado o carvalho só pela cor...”. Lá se foram mais uns 15 minutos. “à boca... humm... acidez perfeita, voltaram as frutas, sinto flores aqui, taninos marcantes, retrogosto curto, o carvalho não pegou, hein? Mais frutas... encontrei um pimentão. Excelente”. Melhor abrir uma caracu.
Outro fenômeno que começa por esta época do ano, que é de
agora até novembro, é a previsão do tempo. Sobre os finais de semana dirão “possibilidade
de neve em Gramado”.
Mas o que é um vinhozinho sem um bom queijo? O delicioso queijo da colônia. O legítimo queijo colonial. O queijo feito com leite de gado criado solto no campo. Não desses que são confinados. Vê-se de longe, pelo tamanho do ubre, que a vaca tem potencial, e certamente seu queijo é especial (trocadalho do carilho).
ResponderExcluirEste queijo também tem procedência sui generis. Vem de um lugarzinho (lugar pequeno), que foi descoberto por acaso. Foi um cerumano que “fazia trilha”. Dizem que não é fácil chegar em lugar tão ermo. Mas o gosto, o gosto é qualquer coisa. Azedo, maturado com um mofo esverdeado, com um travo ligeiramente amargo adocicado; um queijinho feito para ser consumido com o vinhozinho. Contei do salaminho?