Matriz do Femen na Ucrânia rompe com líder do grupo no Brasil
Cofundadora acusa Sara Winter de fazer ‘coisas desonestas’.
Brasileira nega acusação e aponta postura 'ditatorial' de ucranianas.
Dennis Barbosa e Eduardo Carvalho
Do G1, em São Paulo
Alexandra Shevchenko, ativista e cofundadora do Femen, e Sara Winter (Fotos: Femen/Divulgação e Nahalia Duarte/G1)
A matriz da organização feminista Femen, na Ucrânia, rompeu com a líder do braço brasileiro do grupo, Sara Winter, e a acusa de mentir e fazer “coisas desonestas”, como não realizar uma ação para a qual recebeu dinheiro da Europa. O grupo é famoso por promover ações em diversos países, sempre com mulheres seminuas.
A representante do Femen Brazil, Sara Winter, de 20 anos, rebate as acusações. Ela afirma que a liderança da organização na Ucrânia assumiu uma postura “ditatorial” com as brasileiras, com pedidos inusitados e desrespeitosos à cultura do país, e nega o uso irregular de verbas enviadas da matriz e destinadas aos protestos.
Em entrevista ao G1, de Kiev, a ativista e cofundadora do Femen, Alexandra Shevchenko, disse neste sábado (18) que Sara foi excluída da organização porque “não respeitava a ideologia” do grupo. “Ela não foi capaz de fazer o que era necessário. Ela não estava pronta para ser parte do Femen”, disse a ativista.
Alexandra afirma que o Femen mandou dinheiro para Sara e que uma parte era para seu uso pessoal, pois relatou às fundadoras na Ucrânia que vivia um momento de dificuldade financeira, enquanto outra parte era para realizar uma ação do grupo, que nunca aconteceu.
A cofundadora da organização alega que Sara se recusou a explicar o que foi feito do dinheiro, e também não se prontificou a devolvê-lo. A ucraniana não quis dizer qual seria o valor enviado ao Brasil.
Sobre as acusações, Sara afirma ter todas as notas e comprovantes dos gastos do Femen Brazil e que a liderança ucraniana tem conhecimento de como o dinheiro foi utilizado.
“Em fevereiro, elas mandaram R$ 2.700 para financiar alimentação, transporte e hospedagem das ativistas durante protestos que ocorreriam no carnaval. A gente ia invadir o sambódromo [do Rio de Janeiro], mas não deu certo. Íamos transferir a data, mas elas mandaram parar imediatamente com a ação. Ela [Alexandra] disse a mim, pelo Skype, que eu poderia ficar com o resto do dinheiro para alugar uma sede para a organização, que não precisaria ser aplicado em outra ação, mas poderia ser usado em benefício do Femen”, explicou.
'Ficaram brutais'
Sara conta que, depois deste fato, o comportamento da liderança do Femen com as ativistas no Brasil mudou. “Ficaram brutais”, explica. “Temos tido algumas desavenças há algum tempo, muitas vezes, elas queriam nos dar ordens que não eram legais”, complementa.
A ativista conta que a relação da filial brasileira com a matriz foi agravada pelo fato de orientações vindas de Kiev não terem sido cumpridas, como a pichação do símbolo do Femen no Cristo Redentor.
“Para fazer isso, queriam que alugássemos um helicóptero. Se eu fosse o Eike Batista, eu faria, contrataria alguém com licença para pilotar o helicóptero e fazer talvez o maior vandalismo da história. Mas é impossível fazer isso. Elas têm algumas ideias que não condizem com a realidade do Brasil”, complementa Sara, referindo-se ao empresário brasileiro, considerado um dos mais ricos do mundo.
Reestruturação
Ainda de acordo com Alexandra, Sara não é mais parte da organização e o braço brasileiro “agora é um grupo de mulheres à espera de que alguém do Femen original venha para ajudar” a reestruturá-lo.
Alexandra Shevchenko afirma que Sara é livre para fazer o que quiser, mas não pode, em nenhuma hipótese, seguir usando o nome Femen, que pertence à organização ucraniana.
Ela disse que na próxima semana o grupo deve publicar um comunicado detalhando a exclusão da brasileira.
Já Sara não se considera fora do Femen. “As outras meninas e eu conversamos se vamos continuar com a marca. Não vamos parar com o ativismo, e as outras meninas concordaram que não vão continuar sem mim. Somos mulheres livres, não queremos ser controladas por ninguém”, complementa.
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