Um dos maiores clássicos da parceria João Bosco & Aldir
Blanc é “O Bêbado e a Equilibrista”. Mais do que um clássico, essa música foi um hino. Um hino do Brasil na época da
ditadura e da anistia. “Com ela, a música popular soube encarnar como absoluta
perfeição o momento histórico”, já disse Geraldo Carneiro. “Em uma certa hora, aquela música cai na mão
da Elis Regina e ela se apaixona. Quando ela grava, está completamente possuída
por aquela música, já não nos pertence”, disse João Bosco.
A letra é cheia de referências, a começar pelo próprio Charles Chaplin. "Caía a tarde feito um viaduto... E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos...". O viaduto, no caso, era o Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro, que desabou em 1971 deixando 29 mortos. O momento político do Brasil é lembrado várias vezes, em metáforas ou em menções como “Choram Marias e Clarisses”. As Marias e Clarices eram as viúvas dos presos políticos, representadas, na letra, pela Maria, mulher de Manuel Fiel Filho, e pela Clarisse, de Vladimir Herzog: os dois morreram nos porões do DOI-CODI.
joão bosco e aldir branc |
Lançada em 1978, a música tem forte teor político. Mas
surgiu, na verdade, como um desejo de João Bosco homenagear Charles Chaplin.
Chaplin tinha morrido no Natal de 1977.
“Estava em Minas, naquelas festividades de Natal e Ano Novo, e as
pessoas entrando já no clima carnavalesco. Comecei a querer fazer no violão
algo que ligasse o Chaplin àquele momento musical brasileiro, carnavalesco”,
disse João numa entrevista.
“Todos sentiram muito porque ele divertiu muito e de maneira incomum. Tratando os temas eminentemente humanos e se posicionando dentro desses temas a favor dos miseráveis, do vagabundo. Mas com uma alegria, algo invejável, e no final dos filmes havia sempre um horizonte onde você podia chegar a pensar em um dia viver em um mundo diferente. Não tão desfavorecido como este”, explicou. “Mas ele fazia de uma maneira muito bonita. Eu ligava muito o Chaplin ao sorriso, tem uma música que ele compôs, Smile, que eu acho belíssima, ele também tinha uma inspiração musical. Comecei a querer fazer no violão algo que ligasse o Chaplin àquele momento musical brasileiro, carnavalesco, desenvolvendo uma linha a partir do sorriso dele, a partir de Smile. Se você pegar a linha de “O Bêbado e a Equilibrista” vai dar no Smile”.
“Todos sentiram muito porque ele divertiu muito e de maneira incomum. Tratando os temas eminentemente humanos e se posicionando dentro desses temas a favor dos miseráveis, do vagabundo. Mas com uma alegria, algo invejável, e no final dos filmes havia sempre um horizonte onde você podia chegar a pensar em um dia viver em um mundo diferente. Não tão desfavorecido como este”, explicou. “Mas ele fazia de uma maneira muito bonita. Eu ligava muito o Chaplin ao sorriso, tem uma música que ele compôs, Smile, que eu acho belíssima, ele também tinha uma inspiração musical. Comecei a querer fazer no violão algo que ligasse o Chaplin àquele momento musical brasileiro, carnavalesco, desenvolvendo uma linha a partir do sorriso dele, a partir de Smile. Se você pegar a linha de “O Bêbado e a Equilibrista” vai dar no Smile”.
A letra é cheia de referências, a começar pelo próprio Charles Chaplin. "Caía a tarde feito um viaduto... E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos...". O viaduto, no caso, era o Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro, que desabou em 1971 deixando 29 mortos. O momento político do Brasil é lembrado várias vezes, em metáforas ou em menções como “Choram Marias e Clarisses”. As Marias e Clarices eram as viúvas dos presos políticos, representadas, na letra, pela Maria, mulher de Manuel Fiel Filho, e pela Clarisse, de Vladimir Herzog: os dois morreram nos porões do DOI-CODI.
É um “Brasil que sonha... com a volta do irmão do Henfil”, o
sociólogo Herbert de Souza – Betinho – que estava exilado.
"O que é bacana nessa música é que ela não nasceu ligada ao tema", disse Aldir Blanc. "Casualmente, encontrei o Henfil e o Chico Mário, que só falavam do mano que estava no exílio. O papo com o Chico e o Henfil me deu um estalo. Cheguei em casa, liguei para o João e sugeri que criássemos um personagem chapliniano, que, no fundo, deplorasse a condição dos exilados".
"O que é bacana nessa música é que ela não nasceu ligada ao tema", disse Aldir Blanc. "Casualmente, encontrei o Henfil e o Chico Mário, que só falavam do mano que estava no exílio. O papo com o Chico e o Henfil me deu um estalo. Cheguei em casa, liguei para o João e sugeri que criássemos um personagem chapliniano, que, no fundo, deplorasse a condição dos exilados".
A canção foi um sucesso arrebatador. "A música foi
cantada pela primeira vez, pela Elis, num programa em São Paulo. No dia
seguinte, estava estourando em todo o Brasil e ainda nem tinha sido
gravada", disse Aldir.
'O Bêbado e a Equilibrista' também revela as relações de
amizade de João e Aldir - que, próximos de Henfil -, aproximaram-se mais de Elis.
“Meu primeiro disco gravado, que eu dividi um lado com o Tom Jobim, foi uma
ideia do Pasquim, com produção do Sérgio Ricardo. Então, como o Aldir também
colaborava com o jornal, nós frequentávamos a redação e era comum estarmos com
Henfil, Sérgio Cabral, Ziraldo, Millôr... Depois, estreitei mais ainda as
relações com o Henfil em função da aproximação dele com a Elis Regina, que era
uma grande intérprete das nossas canções. E isso tudo gerou “O Bêbado e a
Equilibrista”. É uma canção que celebra toda essa amizade: a minha, do Aldir,
da Elis e do Henfil, com o Brasil", conclui Bosco.
Caía
a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...
A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil.
Meu Brasil!...
Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil...
Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança...
Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...
Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar.
(Do site do 24° Prêmio da Música Brasileira)
Admiro João Bosco e considero esta uma das melhores músicas dele. Aliás, acho que é uma das melhores canções já escritas em nosso idioma. Muito bom saber um pouco mais sobre ela.
ResponderExcluirObrigado, Meg.
ExcluirEssa é a ideia do blog (uma delas, na verdade..rs)
E comentários assim (ou de qualquer natureza) só nos dão força pra tocar o projeto adiante.
Obrigado pela leitura e continue conosco!
Luiggi