Documentário de Eduardo Escorel resgata história do músico Paulo Moura
SÃO PAULO (Reuters)
"Paulo Moura - Alma Brasileira", de Eduardo Escorel, é um documentário atravessado por um legítimo desejo de resgate. No caso, da vida e, sobretudo, da obra do clarinetista, saxofonista, compositor e arranjador paulista Paulo Moura (1932- 2010). É também um trabalho que sobrevive lindamente ao desafio de ter que encarar a morte de seu protagonista logo ao início. O filme estréia em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília e Curitiba.
O projeto existia desde 2008, mas as habituais dificuldades de financiamento adiaram as filmagens até 2010, quando o músico morreu de um linfoma. Montador experiente e diretor versado em documentários políticos, como "O Tempo e o Lugar" (2008), Escorel até pensou em desistir. Felizmente, encontrou caminhos criativos para perseverar, resultando numa obra que serve de justa homenagem a um artista extremamente preparado, versátil, que não distinguia limites entre o erudito e o popular e, não raro modesto, atravessou bem mais fronteiras do que boa parte do público supõe.
Algumas imagens foram inacessíveis - como as de um último sarau promovido pelo músico, filmadas por Escorel, no hospital, cuja utilização a viúva de Moura, Halina Grynberg, não autorizou. O documentarista, no entanto, compensa a ausência com inúmeras outras gravações, algumas inéditas, obtidas em diversas fontes, que permitem assinalar com bastante propriedade a trajetória do músico.
Embora não se pretenda uma biografia em sentido amplo, compromissada com uma cronologia estrita, "Paulo Moura - Alma Brasileira" se vale sobretudo da música composta e executada pelo artista para delinear sua estatura, que lhe valeu um Grammy em 2000 e uma nova indicação, em 2008.
Algumas dessas imagens mostram a impressionante internacionalização de Moura, visto em festivais tão diferentes como Lagos, Berlim, Montreux e Telaviv, e também em parcerias ao vivo, com colegas como o violonista Yamandu Costa.
Não falta a antológica participação do músico na célebre noite de lançamento da Bossa Nova no Carnegie Hall, em novembro de 1962, a convite de Sérgio Mendes, ao lado de Tom Jobim, João Gilberto e tantos outros. Uma ocasião em que a presença de Moura é, não raro, esquecida.
Um excelente depoimento de voz do próprio personagem permite situar melhor sua consciência política e social, como quando comenta a surpresa do golpe de 1964 e também declara sua ojeriza a críticos que policiavam a brasilidade, citando nominalmente o ortodoxo José Ramos Tinhorão. Também é bem-vinda a sua lembrança de, quando bem jovem, ter tocado em dois bailes ao lado de ninguém menos do que o mestre Pixinguinha.
Tal como ocorreu, ainda que de maneira mais exclusiva, no recente documentário "A Música Segundo Tom Jobim", de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, essa opção preferencial pela música em detrimento dos depoimentos mostra-se acertada para o recado que o documentário quer passar. Ao final da projeção, não há como deixar de constatar o quanto Paulo Moura foi um artista muito maior do que a maioria de nós tinha notado.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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