Não tenho frequentado shows, sequer cinemas. Não que eu
não goste, pelo contrário. Gosto tanto que prefiro não ir para não me aborrecer.
Se vou a um evento desses tenho a extravagante mania de querer prestar atenção no que acontece no palco ou na tela. E não na tosse de quem está atrás,
na perna nervosa chacoalhando a minha cadeira no cinema e nem no animado
assunto de amigas que preferem o cinema ao bar para conversar. Não estar
frequentando não significa não saber como as coisas estão funcionando.
O Auditório Araújo Viana, depois de polêmica e demorada
reforma, reapareceu com plateia numerada. Ou seja, você escolhe o lugar em que
quer sentar.
Sou um burocrata, um ordeiro, um legalista. Se eu comprar o
ingresso para o lugar Z150, quero assistir ao show do lugar Z150. E se eu
quiser pagar uma pequena fortuna para assistir do lugar A1, não vou poder fazer
isso. Pelo que eu soube, tem gente que quer dançar, extravasar, pular loucamente.
Claro, na frente do palco. Ou quem está sentado ali fica de pé ou apenas vai ver
gente saracoteando. E quem quer dança quer dançar, não interessa quem está se
apresentando. Por essas e outras é que está cada vez mais difícil me tirar do sofá da
sala.
Pequeno “causo”, para ilustrar. Certa vez fui a um show no
Gigantinho. Todo mundo sentado, bonitinho. Na minha frente, é claro, uma moça
resolve se levantar e dançar. Pedi que sentasse, por gentileza, que fizesse
como as outras 14.999 pessoas que ali estavam. Ela disse que aquilo ali era um
show. “É um show, gente!”, disse ela querendo adesões da vizinhança ao seu argumento.
Retruquei dizendo que ela deveria sentar justamente por isso, era um show, se quisesse
dançar que procurasse uma gafieira. Ela me chamou de impotente, homossexual,
sugeriu que minha mulher tinha um caso extraconjugal e duvidou da integridade
da senhora minha mãe. Tudo isso em outras palavras, claro. E saiu dançando
ginásio afora.
Vendo ponto 50 em bom estado de uso. De canivetes suiço a granadas. Cordas de piano usadas mas funcionais para estrangulamento. Caso seja do seu interesse, por um plus a mais, faço não só acompanhamento como também providencio lei e ordem. Call me.
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