“Crack, fome, miséria, pedofilia, racismo e machismo são
mazelas brasileiras cantadas por cima de guitarras sujas de punk rock. De
repente, o vocalista dá uma gargalhada malévola antes de gritar “Caralho!” com a
boca colada no microfone.”
E o mais impressionante é ligar a televisão (que deixou
tanta gente burra, muito burra demais) e ver o rebelde Miklos a ponto de se fardar de seleção brasileira e cantando mansamente
com Fernanda Takai a música de Jairzinho Oliveira para o comercial do maior
banco do Brasil em alusão à Copa do Mundo: “Vamos
soltar o grito do peito, deixar o coração no jeito, que aí vem mais uma emoção.
Vamos torcer e jogar todos juntos, mostrar novamente pro mundo, como se faz um
campeão.” E segue nessa linha. Você já ouviu, tenho certeza.
Lendo o texto acima, de autoria Lucas Simões (colhido por
mim aleatoriamente na internet sobre o novo disco do grupo logo abaixo citado), é provável que
se pense em uma banda de adolescentes revoltados, cheios de espinhas e do
subúrbio. Nada disso. É do grupo Titãs, cujo membro mais novo deve ter 50 e
poucos anos e qualquer um deles está longe de ser suburbano. A revolta, por
algum motivo, ainda reside naqueles coraçõezinhos. Deve ser porque faltou
inspiração pra novos temas fofos e motivacionais (devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer) ou porque ainda rende elogios. Ou as duas coisas.
O vocalista citado no primeiro parágrafo é Paulo Miklos, que
assina poesias como esta da música Fardado - sobre a polícia -, que abre esse disco: “Por que você não escuta o que eu digo, não
limpa as botas de terra, não prende esse cachorro contigo, não abre a rua e
limpa essa merda!”.
O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído.
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