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quarta-feira, 28 de maio de 2014

FARDADO

Crack, fome, miséria, pedofilia, racismo e machismo são mazelas brasileiras cantadas por cima de guitarras sujas de punk rock. De repente, o vocalista dá uma gargalhada malévola antes de gritar “Caralho!” com a boca colada no microfone.”

Lendo o texto acima, de autoria Lucas Simões (colhido por mim aleatoriamente na internet sobre o novo disco do grupo logo abaixo citado), é provável que se pense em uma banda de adolescentes revoltados, cheios de espinhas e do subúrbio. Nada disso. É do grupo Titãs, cujo membro mais novo deve ter 50 e poucos anos e qualquer um deles está longe de ser suburbano. A revolta, por algum motivo, ainda reside naqueles coraçõezinhos. Deve ser porque faltou inspiração pra novos temas fofos e motivacionais (devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer) ou porque ainda rende elogios. Ou as duas coisas.

O vocalista citado no primeiro parágrafo é Paulo Miklos, que assina poesias como esta da música Fardado - sobre a polícia -, que abre esse disco: “Por que você não escuta o que eu digo, não limpa as botas de terra, não prende esse cachorro contigo, não abre a rua e limpa essa merda!”.


E o mais impressionante é ligar a televisão (que deixou tanta gente burra, muito burra demais) e ver o rebelde Miklos a ponto de se fardar de seleção brasileira e cantando mansamente com Fernanda Takai a música de Jairzinho Oliveira para o comercial do maior banco do Brasil em alusão à Copa do Mundo: “Vamos soltar o grito do peito, deixar o coração no jeito, que aí vem mais uma emoção. Vamos torcer e jogar todos juntos, mostrar novamente pro mundo, como se faz um campeão.” E segue nessa linha. Você já ouviu, tenho certeza.

O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído.

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