Nos estertores da década de 70, um grupo de artistas
radicados em São Paulo, um tanto sem
programação e clamando por espaço pra mostrar seus trabalhos, foi se juntando por afinidade e
necessidade. Um Itamar Assumpção aqui, um Luis Tatit ali, algumas moças de
vozes afinadas arregimentadas para suprir certa carência dos rapazes no cantar
e um palco em Pinheiros. A ponte entre Vila Madalena e Vila Maria se fez pela
estranheza – do som, do comportamento, das idéias. Quando se deram conta, já era um
movimento que a crítica tratou de rotular de Vanguarda Paulista (Paulistana,
para alguns). Durou cerca de sete anos – de 1979 a 1985. E marcou a música
brasileira mesmo com a maioria dos
envolvidos, mas não tendo atingido o tal sucesso comercial. A trupe egressa do
movimento tinha nomes como Arrigo Barnabé, Tetê Espindola, Ná Ozetti, Grupo Rumo, Premetidando o Breque,
Língua de Trapo e Zé Eduardo Nazário.
Assista também o making of da gravação do CD.
O palco principal foi o Lira Paulistana, acanhado teatro nas
cercanias da Praça Benedito Calixto que durante um bom tempo foi também uma
gravadora que jogou no mercado (diminuto) os primeiros registros fonográficos
dos artistas envolvidos na cena. Pelo selo, foram lançados álbuns hoje considerados especiais, como o “Beleléu, Léleu, Eu” (1979), de Itamar Assumpção,
“Summertime” (1981) e ”Abolerado Blues” (1983), de Cida Moreira, e o primeiro
trabalho do Língua de Trapo, de 1982.
Agora, com iniciativa do Selo Sesc, alguns dos marcos do
movimento foram regravados com curadoria e produção de Carlos Careqa. O CD “Ladeira da Memória – Afluentes da Vanguarda Paulista” já está a venda nas
unidades do Sesc e conta com direção musical de Paulo Braga e participações de Chico Buarque, Celine
Imbert, Mariana Aydar e Vânia Abreu, entre tantos outros.
Momento ZH: o CD tem participação de Nei Lisboa, cantando “Alma
não tem cor”, de André Abujanra, e também uma composição de Nico Nicolaiewsky, “Canção
das mulheres do harém de Lampião”.
O TOA escolheu, imparcial e aleatoriamente, uma música do CD
para ilustrar esse texto.
Com o blog Música Estática.
Imparcial e aleatoriamente é o C***!!! Cara de pau...
ResponderExcluir"Da Noruega distante, veio esta canção / Cante o cuco uma vez, preste bem atenção..." Distante sim, mas nunca no anonimato. Mas vá se saber que fim levou Zaratustra, anyway...
ResponderExcluirDa época equidistante (POA x SPO, aliás sempre fomos), lembro o impacto da Vanguarda Paulista nos meus verdes anos. Um movimento impressionante, com músicos ainda hoje distintos. Nada do que até então se fizera, era comparável com a música atonal e dodecafônica de Arrigo Barnabé.
A técnica já era utilizada antes, inclusive pelo nosso (puta pretensão a minha - pelo nosso, pelo nosso) imortal maestro Tom Jobim e alguns outros menos famosos, mas nenhum teve o impacto que Arrigo imprimiu em seus trabalhos. Apesar de paranaense foi em São Paulo que Arrigo se consagrou no cenário musical, pelo menos para mim. O humor irreverente do Língua de Trapo, os músicos talentosos do Premeditando o Breque. as vozes marcantes de Na Ozzetti, Vânia Bastos (um bípede acima de qualquer suspeita), Tetê Espíndola. A genialidade de Luis Tatit em suas composições, a malemolência de Itamar Assumpção entre outros deixou saudades, foram importantes no cenário nacional e fazem parte do meu memorial (gostei dessa parte) e de viagens sem sair do lugar.
A título de comparação a versão original para aqueles que nunca ouviram. Enjoy!
http://www.youtube.com/watch?v=ab-Ma4VswfU