José Rodrigues Trindade, o Zé Rodrix, nasceu no Rio de Janeiro
em 1947. Em 2000, compôs JESUS NUMA MOTO, lançada diretamente em um
CD/DVD ao vivo em 2001, no reencontro com seus parceiros Sá e Guarabyra.
Abaixo, alguns depoimentos do autor sobre a música.
Isso, quando ele parou (um motoqueiro "Hells Angel's”),
tirou o capacete e era um gerente de banco, um senhor. Um senhor de quase seus
70 anos, aquela cara de gerente de banco, e estava numa moto. Aí falei
para o meu filho, "Olha aí, meu filho, esse aí meteu um Marlon Brando nas ideias
e saiu por aí!", exatamente onde começa a música. Então, essa
característica panfletária, você pode ver nas músicas antigas e nas novas, pois
nós sempre fomos gente com esse tipo de postura, panfletária, aberta, de
opinião, nunca a música pela música, algo que a gente não perdeu nesses anos, e
talvez aí esteja o motivo do interesse das pessoas ter permanecido.
Ela foi composta em 2000, a partir da imagem de Jesus
dirigindo uma moto. No momento, ela vem se tornando hino dos grupos de
motoqueiros brasileiros. Cada vez mais cantada por eles em seus eventos. Não
acredito em sonhos, a não ser quando estou dormindo. Por isso, creio que JESUS
NUMA MOTO é apenas um retrato das pessoas de minha geração que, após
amadurecerem, se tornam capazes de ter duas vidas, sendo uma delas aquela que
lhes agrada integralmente
Existe um Universo mítico que só tem concretude na musica
feita no Brasil, e sendo mais transcendente que imanente, ainda assim é levado
a sério, como se tivesse existência real. Passei por isso com CASA NO CAMPO; a
quantidade de gente que embarcou naquele sonho, sem perceber que ele era apenas
a fotografia de um determinado momento, não está no gibi. Tenho passado por
isso atualmente com JESUS NUMA MOTO(...).
A imensa quantidade de motoqueiros individuais ou
coletivamente organizados que está transformando a música em um hino da
categoria (rsss) não dá para encarar. (Neste caso, acho que o problema está na
sonoridade das palavras CELA e SELA, que cada um entende do jeito que quer,
pode e consegue...)
Há quem viva de acordo com as personas estabelecidas nas
músicas deste ou daquele, provavelmente porque elas decifraram dentro de seu
espirito algum enigma que ele sequer sabia que lá estava. Esta é a função do
artista, nascida da sua capacidade criativa e de sua maior ou menor coragem de
se atirar no abismo-de-si-mesmo em busca de alguma coisa a mais. Se o artista
não presta esse serviço, desbravando continentes inexplorados, o público vai
ficando bobinho e sem essência, vivendo apenas da epiderme para fora, sem que
haja real penetração da arte no seu eu mais interior, daí em diante reiterando
ou clonando personagens e atitudes que não são verdadeiras nem mesmo para o
autor da canção.
Uma impostura de parte a parte: os artistas mentem, o
público se deixa enganar, e a indústria cultural continua faturando. Cada vez
menos, é verdade, porque aquilo que não se instala profundamente no público se
torna apenas descartável, dando ao púublico a sensação de que TODA MUSICA É
DESCARTÁVEL, já que vazia de significado e incapaz de penetrar em seu espírito.
Do outro lado, temos as músicas comerciais que se pretendem profundas, mas não
o são, fingindo uma importância e um valor que não têm, mas do qual se arrogam através
do artifício da pretensa "qualidade", sem fundamento nem realidade
alguma. Em todos os lados, o que vemos é apenas o culto à personalidade, sem
que as obras o justifiquem. Artistas também se tornam descartáveis, uma espécie
de ex-BBB com cachê cada vez menor, e nunca compreendem que foi exatamente a
sua maneira equivocada de agir em relação à música que os transformou em pálidas
sombras de si mesmos.
Jesus numa Moto
Zé Rodrix
Preso nessa cela
De ossos, carne e
sangue
Dando ordens a quem
não sabe
Obedecendo a quem
tem.
Só espero a hora
Nem que o mundo
estanque
Prá me aproveitar do
conforto
De não ser mais
ninguém.
Eu vou virar a própria mesa
Quero uivar numa nova
alcateia
Vou meter um Marlon
Brando" nas ideias
E sair por aí.
Prá ser Jesus numa moto
Che Guevara dos
acostamentos
Bob Dylan numa antiga
foto
Cassius Clay antes
dos tratamentos
John Lennon de outras estradas
Easy Rider, dúvida e
eclipse
São Tomé das letras
apagadas
E arcanjo Gabriel sem
apocalipse.
Nada no passado
Tudo no futuro
Espalhando o que já
está morto
Pro que é vivo
crescer.
Sob a luz da lua
Mesmo com sol claro
Não importa o preço
que eu pague
O meu negócio é
viver.
Eu vou virar a própria mesa
Quero uivar numa nova
alcateia (nova alcateia)
Vou meter um Marlon
Brando" nas ideias
E sair por aí.
Prá ser Jesus numa moto
Che Guevara dos
acostamentos
Bob Dylan numa antiga
foto
Cassius Clay antes
dos tratamentos.
John Lennon de outras estradas
Easy Rider, dúvida e
eclipse
São Tomé das letras
apagadas
E arcanjo Gabriel sem
apocalipse.
"Em todos os lados, o que vemos é apenas o culto à personalidade, sem que as obras o justifiquem." Há muito tempo que a música virou menos importante do que quem a canta. Por isso essa porcaria que se Vê hoje em dia...
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