“Precisamos respirar esse vinho”. A frase foi dita por um
garçom que carregava uma travessa de leitão à pururuca e se impressionou com o
rótulo pedido por Alabama. Alabama gosta de garrafas numeradas. Aquela seria a
segunda de uma série de quatro vinhos que regariam aquele almoço.
O primeiro vinho - que eu pedi – não impressionou ninguém. Era
um bom vinho. Mas não a ponto de parar garçons.
O leitão foi abandonado na mesa do lado e o garçom que abria
o vinho foi orientado a parar imediatamente sua operação para buscar urgentemente
um decanter. Tenho a impressão que o porquinho que jazia assado ali do lado
abriu seus olhinhos para observar a cena.
Enquanto era providenciado um decanter na casa, ouvíamos a
fala entusiasmada do garçom sobre as vantagens de se arejar o vinho, fazê-lo
respirar e pedir desculpas antes de bebê-lo. Bem como agradecer aos céus e aos
contratos fechados que nos propiciam tal momento.
Junto do decanter, veio uma chuva de garçons, todos brandindo
suas bandejas e nos oferecendo iguarias do restaurante até então negadas. A
tese sobre alguma coisa que eu explanava no momento foi não só interrompida ali
como enterrada para sempre junto do sorriso de satisfação de Alabama.
Quando a revoada de garçons se distancia – e tenho a
impressão de que o leitãozinho ficou dando tchau –, Alabama segura a garrafa de
vinho como quem segura um nenê e faz a ela a mesma pergunta retórica
que Mr. Wolf faz para Raquel em frente a Jules e Vincent: “Você sabe o que é
isso? Respeito, baby, respeito”.
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