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sábado, 13 de abril de 2013

LEITURA


O Começo da Briga

- O senhor foi intimidado a depor sobre a violenta briga acontecida ontem no seu armazém, no Iguariaçá. Três mortos, oito feridos, um horror...

- No meu bolicho, seu delegado. Quem sou eu pra ter armazém? Armazém é do Turco Salim, que foi mascate. Por sinal que...

- Não desvie do assunto. Como e por que começou a briga?

- Bueno, pois historiemo a coisa. Domingo, como o senhor sabe, o meu bolichote fica de gente que nem corvo em carniça de vaca atolada. O doutor entende: peonada no más, loucos por um trago, por uma charla sobre china. A minha canha é da pura, não batizo com água de poço como o Turco Salim. Que por sinal...

- Continue, continue. Deixe o turco em paz.

- Pois então bamo reto que nem goela de joão-grande. Tavam uns quinze home tomando umas que outras, uns mascando salame pra enganar o bucho, quando chegou o Faca Feia. O senhor sabe, o índio é mais metido que dedo em nariz de piá. Deu um planchaço de adaga no balcão e perguntou se havia home no bolicho. Todo mundo coçou as bola. Home tem bola, o senhor sabe. O Lautério - que não é flor de cheirar com pouca venta - disse que era com ele mesmo, deu de mão numa tranca e rachou a cabeça do Faca Feia. Um contraparente do Faca não gostou do brinquedo e sentou a argola do mango no Lautério, pegou no olho - lá nele - e o Lautério saiu ganindo como cusco que levou água fervendo pelo lombo. Um amigo do Lautério se botou no contraparente do Faca - que já tava batendo perninha - e enfiou um palmo e meio de ferro branco no suvaco do cujo, que o chamam de Pé de Sarna. O irmão do Sarna, acho que chateado com aquilo, pegou um peso de cinco quilos da balança e achatou a cabeça do homem que faqueou o Sarna. Os óio saltaram, seu doutor. E eu só olhando, achando tudo aquilo um tempo perdido. Um primo do homem do ferro branco rebuscou um machado no galpão e golpeou o irmão do Sarna. Errou a cabeça, e só conseguiu atorar um braço do vivente. Aí eu fui ficando nervoso, puxei meu berro pro mole da barriga, pronto pra um quero. Meu bolicho é casa de respeito, seu delegado, e a brincadeira já tava ficando pesada. Mas bueno, foi entonces que o Miguelão se alevantou do banco, palmeou uma carneadeira, chegou por trás do homem do machado, pé que te pé, grudou ele pelas melena e degolou o vivente num talho que foi a coisa mais linda. O sangue jorrou longe como mijada de colhudo. Aí eu e mais uns outros - tudo home de respeito - se arrevoltemo com aquilo. Brinquedo tem hora, o senhor não acha?

- Acho, sim. Mas e aí?

- Pois é, como lhe disse, nós se arrevoltemo. Saqueamo os talher. E foi aí que começou a briga...

Rapa de Tacho - Causos Gauchescos - Apparicio Silva Rillo - 1982

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