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segunda-feira, 3 de junho de 2013

POR QUE MEU FILME DEVE SER LIBERADO

por Srdjan Spasojevic

Vários países, incluindo o Brasil, barraram meu filme, alegando que cenas chocantes não devem ser exibidas. O que eles não entendem é que essa é a forma que encontrei de mostrar a realidade ao público.

 A Serbian Film - Terror sem Limites, filme que escrevi e dirigi, conta a história de um ator pornô em decadência econômica. Para narrar a trajetória dele, usei cenas de estupro, pedofilia, violência. No entanto, nem todo mundo que assistiu ao filme viu essas cenas. Em vários países a obra teve trechos censurados - só na Inglaterra foram 49 cortes, pedidos pelo conselho responsável pela classificação indicativa de cinema no país. Na Noruega e na Espanha, o filme inteiro foi proibido, por decisões judiciais. No Brasil, ele também está atualmente vetado.


As autoridades que impuseram os cortes dizem que as cenas são chocantes. Mas elas estão lá por um motivo: mostrar abertamente os problemas ao nosso redor. A proposta do filme é retratar o que sinto sobre o meu país, a Sérvia, e o que passamos nos últimos 20 anos: guerra, agitação política, um pesadelo econômico. Na verdade, o mundo inteiro tem passado por questões como essas. Por isso, a história busca representar mazelas também presentes em outros países para que qualquer espectador se identifique com o que está na tela.

As cenas consideradas controversas têm papel importante nessa missão. Meu objetivo com elas era fazer o público encarar diretamente os problemas do mundo, sem chance de ignorá-los. E fazê-lo perceber que, em um mundo politicamente correto, humilhações e violações de direitos acontecem constantemente - e isso não é problema só dos outros.

A pornografia, a crueldade e a violência que incluí no filme não devem ser encaradas como entretenimento. Nem apreciadas por si só. Mas elas têm, sim, uma finalidade dramatúrgica essencial para que eu possa expressar o que quero com o filme. Ainda assim, foram cortadas - em nome do tal politicamente correto, que esconde as sujeiras do mundo. Mas o que há de correto em cortar e proibir nossas manifestações? Ao longo da história, diversos filmes inicialmente rotulados como "impróprios" acabaram se tornando clássicos. Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, e O Exorcista, de William Friedkin, são ótimos exemplos disso.

Claro que existe um limite para a exibição. Fui o primeiro a dizer que meu filme não deveria ser visto por menores de 18 anos. Mas quem tem o direito de escolher o que deve ou não ser exibido a maiores? Haverá no mundo alguma comissão de pessoas brilhantes capazes de tomar essa decisão por todos os outros? Isso não passa de utopia. Se continuarmos proibindo filmes, estimularemos a autocensura praticada por autores, diretores e produtores. E ainda correremos o risco de ficar apenas com filmes politicamente corretos.

Nota da Redação: Srdjan Spasojevic é cineasta e diretor de A Serbian Film - Terror sem Limites. Este texto foi publicado no Brasil na revista Superinteressante em setembro de 2011. O filme foi exibido na Muileal em uma das edições do FantasPOA. Em julho de 2012, foi liberado. Ninguém da redação do TOA assistiu ao filme. O texto está aqui por conta do nosso interesse na discussão a respeito do "politicamente correto".

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