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domingo, 7 de julho de 2013

GET BACK TO RADIO


Primo escreve sobre uma canção de Roger Waters:

Get back to radio ficou perdida nas gravações do Radio Kaos, o segundo disco solo pós-Floyd do Roger Waters. Resta saber as razões desta esquisita opção: ela é superior a várias canções do Radio Kaos e se encaixa tematicamente no conceito do disco. Musicalmente bem construída - e repleta de efeitos de teclado, sax ao fundo com direito a pequeno solo -, ela recupera um estilo vocal que Waters vinha construindo e trabalhando desde o Final Cut (além dos efeitos de pedal de voz e de duplicação de voz): cada frase é cantada de um jeito diferente, exprimindo com sua voz, é claro, aquilo que a frase exatamente quer dizer.

Pode-se dizer que a limitada voz do Roger Waters é um instrumento; mas não é um instrumento de virtuose. É um instrumento (no sentido lato do termo) a serviço daquilo que o Roger tem a dizer. Ninguém consegue fazer isto no rock and roll (embora, tecnicamente falando, todos cantem melhor que o Roger Waters). E o resto todo mundo sabe (mesmo quem não gosta do Roger Waters): ele sempre tem alguma coisa a dizer.

Bom, sabe-se que o Roger Waters, ainda que não possa ser considerado um monotemático, é um repetitivo incorrigível e incoercível. Sua mãe, Syd Barrett, a morte do pai. Há quarenta anos é a mesma estória. E, quando a estória muda de personagem, trata-se ainda da mesma estória: o personagem está encolhidinho, do lado de lá do muro, oprimido por uma sociedade sem valores.

Se você entrevistar algum destes músicos esquerdinhas que vivem por aí, é possível que ele fale mal da MTV. Mas se você não entrevistá-lo e, ao invés, encontrá-lo num bar, ele vai dizer a mesma coisa que diria na entrevista. Para ele, é um fato (um fato bruto) que a MTV é ruim. Ele só precisa dizer isso.

Não é o caso do Roger Waters. Pegue o caso de Get back to radio: antes de falar mal da MTV, vamos lembrar de um soldado que ficou congelando no frio, pois alguém precisa ficar representando o país diante de um bandeira tremulando. Antes ainda é bom lembrar que estamos todos sozinhos, mas podemos nos conectar por alguma espécie de onda sonora (isto havia sido tema do Radio Kaos, é bom lembrar). Agora sim: nós não vamos nos dobrar para a MTV!!!! Eu sou um homem e não um número!!!!! Acabou???? Não. Nesta solidão toda, no meio do desespero que ele inventou, implora para que a primeira ex-mulher pegue na sua mão. Agora: é um homem sozinho ouvindo rádio. E então a grande invenção: não é só ele – há toda uma geração esperando por um novo rádio (ele berra nesta hora da música). Mas é invenção. Invenção de um gênio. Olhando o rádio, lembra do Bob Geldoff: que Deus o abençoe, fecha Roger Waters.

Se o Roger Waters aparecer no Nicko’s em uma tarde fria de sábado e nos encontrar, ele vai acrescentar algumas coisas, mudar outras. Mas vai falar a noite toda, quantas vezes for necessário, até que eu e o primo deixemos bem claro que entendemos o que ele quis dizer.
 
Primo


 

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