Avião da FAB não é táxi aéreo grátis
POR FREDERICO VASCONCELOS
folha de s. paulo
O uso
de um avião da Força Aérea Brasileira para levar o presidente da Câmara dos
Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), parentes e amigos ao jogo do
Maracanã –fato revelado pelo repórter Leandro Colon, na Folha desta
quarta-feira (3/7)– é apenas o abuso mais recente dessas práticas, agravado
pela insensibilidade do parlamentar diante das manifestações de rua.
Conta-se
que um ministro da Aeronáutica, ainda durante o governo militar, fez chegar ao
então general-presidente a insatisfação de seus oficiais com o tratamento que
um ministro civil dispensava à equipe da FAB responsável pelo deslocamento de
autoridades. O tal
ministro era conhecido pela impontualidade, o que obrigava os militares a
refazer sucessivos planos de voo. A gota d’água que gerou a reclamação ao
presidente foi a companhia que o ministro escolheu para um traslado: duas
jovens que, decididamente, não aparentavam pertencer ao staff ministerial. O mais
grave: durante o voo as convidadas trataram os oficiais e seus auxiliares como
se comissários de bordo fossem e, pior ainda, reclamaram da qualidade dos
serviços oferecidos porque não havia nenhuma bebida alcoólica disponível.
A falta
de transparência no uso de equipamentos públicos militares para finalidades no
mínimo discutíveis não é fato novo. Aqui
neste espaço já se divulgou a tentativa da Marinha de evitar confirmar
que helicópteros da Força haviam sido usados para transportar magistrados
a um evento festivo em final de semana prolongado num resort no Rio de Janeiro.
Mais
recentemente, o Superior Tribunal Militar não quis prestar maiores informações
sobre o uso de aeronaves da FAB e helicópteros do Exército para transportar uma
comitiva de mais de 30 pessoas, formada por ministros do STM, chefes de
gabinete, oficiais auxiliares, assessores e convidados, em visita a fábricas de
veículos militares e de material bélico em São Paulo e Minas Gerais, programa
que nada tem a ver com as atividades jurisdicionais da Corte.
No
momento em que a sociedade cobra mais transparência, essas autoridades aparentemente
preferem continuar nas nuvens, evitando pôr os pés no chão.
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