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sexta-feira, 12 de julho de 2013

ALMOÇANDO

Já ouvi gente afirmar categoricamente: “a coisa mais triste que tem é almoçar sozinho”. Ponto.

Quem trabalha em qualquer empresa com mais de uma pessoa sabe que a partir 8h30min o assunto dominante no ambiente é “onde vamos almoçar hoje?”. Ou, para alguns esfomeados mais determinados: “Vamos ao chinês hoje?”. E dali se estabelece um debate que só se encerrará no meio-dia, contribuindo fortemente para a produtividade do grupo.

Em uma turma mais heterogênea, essa discussão começa com a sugestão de uma churrascaria em contraponto a um restaurante italiano, alguém sugere Mcdonalds e outro uma pizzaria. Restaurantes macrobióticos e ambientes que servem peixe cru também entram na conversa. E todos os 25 famintos chegam a um acordo e saem em bando, tendo que esperar alguém que está no banheiro. Mas, claro, antes de ir ao local escolhido todos precisam antes parar no banco porque alguém precisa urgentemente consultar o saldo da conta ou pagar uma conta que vencerá na semana que vem.


Chegando ao restaurante, provavelmente lotado, já que todos almoçam no mesmo horário, dois ou três se destacam do grupo para, barulhenta e espalhafatosamente, arrastar mesas para que pessoas que não se falam no trabalho sentem-se simpaticamente lado a lado.

Depois dessa confusão, o garçom vem perguntar se alguém quer beber alguma coisa. Todos se olham. Nova confusão. “Vamos pedir um refrigerante de litro, vale mais a pena”. Todo dia tem essa ressalva do refrigerante. “Vamos!, uma coca”. “Não, uma fanta uva light”, diz um gordo chegando com o prato transbordando de macarrão, frango, feijão, ovo frito, sushi e maionese, enquanto os fios de macarrão tocam o cabelo de alguém já sentado. Outra pessoa quer pedir alguma coisa, mas é envelopado por um colega que insiste em continuar ali a reunião da manhã. O garçom desiste e trás qualquer coisa.

Depois, no racha da conta, alguém diz que não tomou refrigerante e merece pagar menos. E outra pessoa descobre que não carrega a carteira. E outra carrega a carteira, mas... esqueceu “os tique”. Ponto.

Eu, realmente, não considero almoçar sozinho a coisa mais triste do mundo. Não considero nem triste, aliás. Eu considero triste ter vontade de comer costela e acabar comendo sushi. (Muitas vezes com feijão e arroz. Trabalhadores e trabalhadoras do Brasil gostam muito de comer feijão com arroz em qualquer restaurante em que estejam, não importa se com lasanha, pizza ou cachorro-quente.)

Em nome do gregarismo e “net working”, acabamos deixando as vontades individuais de lado. Alguns vão no efeito manada mesmo.

E todos almoçam juntos assistindo televisão.
Luiggi

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