Já ouvi gente afirmar categoricamente: “a coisa mais triste
que tem é almoçar sozinho”. Ponto.
Quem trabalha em qualquer empresa com mais de uma pessoa
sabe que a partir 8h30min o assunto dominante no ambiente é “onde vamos almoçar
hoje?”. Ou, para alguns esfomeados mais determinados: “Vamos ao chinês hoje?”.
E dali se estabelece um debate que só se encerrará no meio-dia, contribuindo
fortemente para a produtividade do grupo.
Em uma turma mais heterogênea, essa discussão começa com a
sugestão de uma churrascaria em contraponto a um restaurante italiano, alguém
sugere Mcdonalds e outro uma pizzaria. Restaurantes macrobióticos e ambientes
que servem peixe cru também entram na conversa. E todos os 25 famintos chegam a
um acordo e saem em bando, tendo que esperar alguém que está no banheiro. Mas,
claro, antes de ir ao local escolhido todos precisam antes parar no banco
porque alguém precisa urgentemente consultar o saldo da conta ou pagar uma
conta que vencerá na semana que vem.
Chegando ao restaurante, provavelmente lotado, já que todos
almoçam no mesmo horário, dois ou três se destacam do grupo para, barulhenta e
espalhafatosamente, arrastar mesas para que pessoas que não se falam no trabalho
sentem-se simpaticamente lado a lado.
Depois dessa confusão, o garçom vem perguntar se alguém quer
beber alguma coisa. Todos se olham. Nova confusão. “Vamos pedir um refrigerante
de litro, vale mais a pena”. Todo dia tem essa ressalva do refrigerante.
“Vamos!, uma coca”. “Não, uma fanta uva light”, diz um gordo chegando com o
prato transbordando de macarrão, frango, feijão, ovo frito, sushi e maionese, enquanto os fios de macarrão tocam o cabelo de alguém já sentado. Outra pessoa
quer pedir alguma coisa, mas é envelopado por um colega que insiste em
continuar ali a reunião da manhã. O garçom desiste e trás qualquer coisa.
Depois, no racha da conta, alguém diz que não tomou refrigerante
e merece pagar menos. E outra pessoa descobre que não carrega a carteira. E
outra carrega a carteira, mas... esqueceu “os tique”. Ponto.
Eu, realmente, não considero almoçar sozinho a coisa mais
triste do mundo. Não considero nem triste, aliás. Eu considero triste ter
vontade de comer costela e acabar comendo sushi. (Muitas vezes com feijão e
arroz. Trabalhadores e trabalhadoras do Brasil gostam muito de comer feijão com
arroz em qualquer restaurante em que estejam, não importa se com lasanha, pizza
ou cachorro-quente.)
Em nome do gregarismo e “net working”, acabamos deixando as
vontades individuais de lado. Alguns vão no efeito manada mesmo.
E todos almoçam juntos assistindo televisão.
Luiggi
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