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terça-feira, 9 de julho de 2013

CORAGEM

Bueno, começo pela vacina tradicional – e sincera, neste caso – porque a patrulha politicamente correta me viciou. Não torço pelo azar de ninguém. Tá bem, de quase ninguém, como disse já o Luis Maurício.

Eu não sou um sujeito previdente. Pago alguma coisa de previdência pública orientado pela minha “ermã” contadora. Não pago previdência privada, conforme me aconselha o alarmado amigo Marcelo Alabama. Não sei, portanto, como será minha velhice. Espero que Marcelo guarde algum para suprir os vinhos da minha velhice. De minha parte, coloco rocks antigos de sua predileção no Pauta Extra para garantir esse vinho futuro.

Leio na Zero Hora de hoje (08/07/2013) que o poeta Luiz de Miranda pede socorro à sociedade por causa de sua vida precária. A mesma reportagem lembra outros ilustres amparados pelo estado: Lourdes Rodrigues, Plauto Cruz e o velho lambe-lambe Varceli Freitas Filho.

Luiz de Miranda lançou 34 livros. Não entendo nada de direitos autorais, e só vejo gente queixosa falando a esse respeito. Mas imagino que 34 livros deveriam dar alguma graninha. Donde se conclui – novamente – que poetas não leem poetas. A quantidade de poetas somente na MuiLeal certamente teria catapultado as vendas de Miranda às alturas.

A escritora Cinthia Moscovich, de quem já fui aluno, aparece com o tradicional discurso muilealevalerosense: “Deveriam se juntar para ajudá-lo.” Segundo ela “não é justo que alguém que se dedicou tanto à poesia e à literatura esteja nesse estado”. Como se a vida fosse justa. De qualquer forma, não é decente que ninguém, poetas ou contadores, terminem a vida contando os caraminguás para fazer uma refeição por dia.

Mas o que realmente me chamou a atenção na reportagem foi a postura corajosa do também poeta Fabrício Carpinejar, com quem raramente concordo. Diz ele: “O Miranda sempre viveu nesse sobressalto financeiro, dependendo dos outros. Acho que ele está se aproveitando da questão do poeta sem condições, essa sombra do Quintana. O poeta não é semideus. O Estado não tem obrigação de sustentá-lo”.

Fazia tempo, mas tempo mesmo, que não via uma declaração despida assim de autocensura. Pode ser que eu esteja sempre lendo e ouvindo as mesmas coisas. Os mesmo poetas, a mesma praça, o mesmo jardim.

Luiggi

Um comentário:

  1. caro Luiggi, esse teu texto me faz pensar que como temos conteúdo politicamente correto e emotivo, sobretudo tratando-se de um idoso e ainda mais poeta;

    mas os teus vinhos da velhice estarão garantidos, pode continuar gastando a vontade com tintos numerados da Borgonha.

    grande abraço, alabama

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