Em uma madrugada, Agnaldo Timóteo contou para Gonzaguinha
que estava vivendo um romance perturbado com Paulo Cesar Souza (para quem
Timóteo compôs “A bolsa do posto 3”, sucesso na década de 70), cheio de
desencontros e brigas. Gonzaguinha escreveu, então, pensando nessa história, "Grito
de Alerta", canção de uma dolorida e conturbada história de amor buscando
paz.
Não vê que então eu me rasgo
Porém, antes de Agnaldo saber da existência da canção,
Gonzaguinha a entregou para a cantora Maria Bethânia, que no ano anterior
gravara com sucesso "Explode Coração", do compositor. Bethânia incluiu
"Grito de Alerta" no álbum Mel, de 1979, abrindo o lado B do LP. A
canção de tema homoafetivo ganhou interpretação intensa e dramática pela
cantora, responsável por outras canções de personagens que se entregam
intensamente ao amor, e tornou-se logo um grande sucesso dela e um dos maiores
êxitos do bem sucedido álbum.
Quando Agnaldo Timóteo ficou sabendo da canção, Bethânia já
tinha a gravado. Irritado por não ter sido o primeiro a gravar a canção cuja
história era sobre ele, acabou sendo o segundo a gravar. Sua versão foi
adicionada ao álbum Deixe-me Viver, mas não conseguiu destaque.
Sobre o episódio, Timóteo se pronunciou: “Eu fiquei pau da vida com o Gonzaguinha porque aquela história era
minha, eu deveria ter sido até parceiro dele na música. Eu falei: Puta que
pariu, Gonzaguinha, então eu te conto uma história de minha cama e você dá a música
para a Bethânia gravar!?”
No ano seguinte foi Gonzaguinha quem a gravou no seu álbum 'De
Volta ao Começo'.
Grito de Alerta
Gonzaguinha
Primeiro você me azucrina
Me entorta a cabeça
Me bota na boca
Um gosto amargo de
fel...
Depois
Vem chorando
desculpas
Assim meio pedindo
Querendo ganhar
Um bocado de mel...
Engasgo, engulo
Reflito e estendo a
mão
E assim nossa vida
É um rio secando
As pedras cortando
E eu vou perguntando:
Até quando?...
São tantas coisinhas miúdas
Roendo, comendo
Arrasando aos poucos
Com o nosso ideal
São frases perdidas
num mundo
De gritos e gestos
Num jogo de culpa
Que faz tanto mal...
Não quero a razão
Pois eu sei
O quanto estou errado
E o quanto já fiz
destruir
Só sinto no ar o
momento
Em que o copo está
cheio
E que já não dá mais
Pra engolir...
Veja bem!
Nosso caso
É uma porta
entreaberta
E eu busquei
A palavra mais certa
Vê se entende
O meu grito de alerta
Veja bem!
É o amor agitando o
meu coração
Há um lado carente
Dizendo que sim
E essa vida dá gente
Gritando que não.
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