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sábado, 16 de março de 2013

IMPULSO PRESSIONADOR


No filme “O homem que Copiava”, Jorge Furtado mostra o livro “O Impulso Duplicador”, que até onde sei é um capítulo do livro “Os Descobridores”, de Daniel Boorstin.
Mas sempre que vou ao mercado penso que alguém deveria escrever “O Impulso Pressionador”. Sempre lembro aquela frase que a gente ouvia quando era pequeno: “Olha com os olhinhos!”. Acho que caiu em desuso. Ou todo mundo esqueceu. E é provável que mesmo quem dizia isso aperte pão por pão no supermercado. Pra escolher nenhum e depois ir pra fila da padaria e pedir: “Quero um pãozinho. BEM MORENINHO”. Isso depois de apertar todos caquis e tomates. Melancia e cebola ninguém aperta. Estranho.

A propósito, tá liberado meter uma uvinha no mercado? A Câmara de Vereadores, a Cristina Ranzolin e o prefeito da Muileal decretaram em conjunto que a turma pode passar por um cacho que uvas no supermercado e arrancar a maior quantidade possível fazendo pose de compenetrado nos legumes? Quem tenta comprar uva no supermercado certamente já se deparou só com meio cacho.  A metade de baixo.
As carnes também atiçam o “Impulso Pressionador” da rapaziada. Nunca entendi a razão de tocar o dedo duro na carne moída.
E o cansaço na fila do fiambre? Deve ser porque, normalmente, essa parte é a mais distante da entrada. A turma chega lá cansada e se escora no balcão. Se estiver de chinelo, é a hora de usar o dedão pra coçar a panturrilha. Na hora de pedir, não basta gritar: “Trezentas (sic) de presunto magro!”. É preciso bater com a unha repetidamente no frio vidro da fiambreria (já ensebado de tanta gente se escorar ali e meter o dedão). Como se o (a) atendente não soubesse onde fica o presunto magro e necessitasse muito de sua colaboração. É normalmente nessa hora que algum afoito atrás de você bate o carrinho (onde está escorado) no seu garrão.
“Trezentas e quatorze, senhora. Está bem assim?” Não, não está. Eu pedi trezentas...” A atendente fica dois minutos pinçando uma fatia pra tirar fora. “Duzentas e oitenta, senhora”. “Ai, está bem”. Nesse momento, a comedora de presunto olha pro resto da fila e comenta, pedindo cumplicidade: “Não adianta levar muito, depois estraga, não dá pra espediçar (sic)”. Tudo isso sempre segurando firme no balcão. Sabe como é, pode desabar tudo.
Os ovos. Agora tem caixinhas com seis ovos. Mas mesmo quando são de 12, a paciente consumidora olha ovo por ovo. Sabem como é, os supermercados estão aí pra nos passarem a perna e vender um ovo trincado.

A indecisão no leite... O cristão toma sempre o mesmo tipo de leite. Mas sempre para pra escolher se é o integral, o desnatado, o com ômega ou aquele outro que dá desconto de 0,03 centavos quando se compra oito caixas.
E o pão sanduíche? Já está no carrinho de compras (com quatro itens, depois de percorrer o mercado inteiro) o pão bem moreninho. Mas é preciso parar na frente dos pães de sanduíche. Antigamente, o pão de forma se dividia entre os “de leite” e os “de manteiga”. Agora tem umas 75 variedades. De cenoura, de iogurte, de cinco grãos, de seis grãos, de sete grãos, e já deve ter um que o papa argentino benzeu. Sem falar, claro, no pão com o importante ômega.

Luiggi

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